Cortesia da revista Avicultura Industrial, edição #1297
O frango que chega à mesa dos brasileiros é efetivamente um produto de base tecnológica. Antes mesmo de um pintinho nascer, ele já carrega em si décadas de pesquisas e ganhos genéticos. Durante todo o seu ciclo produtivo, isso é acompanhado de inúmeros avanços em nutrição, sanidade, manejo e outros pilares de desenvolvimento da atividade. Todo este processo produtivo da ave culmina nas plantas frigoríficas, que nos últimos dez anos investiram fortemente na automação de todos os seus processos, agregando inovações de ponta a cada etapa do processamento.
Os investimentos em tecnologia dentro dos frigoríficos possibilitaram o desenvolvimento de novos produtos, alinhados às necessidades dos consumidores modernos, atendendo desde demandas específicas de alguns dos mais de 160 países aos quais chega o frango brasileiro, até o gosto e as necessidades do consumidor doméstico. Os hábitos de consumo se moldam ao longo do tempo frente as transformações de realidade da sociedade. Cabe à indústria interpretar esse processo de mudança social, oferecendo produtos mais adequados aos novos perfis de consumo, com novos cortes ou porcionamentos, opções sem ossos e outras alternativas que facilitem o dia a dia das pessoas ou das redes de food service.
Os frigoríficos avícolas têm buscado no mercado opções de equipamentos que automatizem boa parte de seus processos, ao mesmo tempo que reduzam custos e perdas, gerando eficiência de uma ponta a outra dentro das várias etapas até o produto final. A presença no país de um maior número de empresas fabricantes de equipamentos para frigoríficos – ou de seus representantes – facilitou este “boom” de investimentos nos últimos anos, principalmente no período 2010-2016.
O resultado disto tudo está na cozinha e nos pratos dos brasileiros, cujo preparo tem se tornado cada vez mais fácil, prático e diversificado. No entanto, há um grande espaço ainda para se avançar neste aspecto. O diretor Regional da Marel Poultry na América Latina, Ruud Berkers, avalia que os cortes oferecidos no mercado nacional são os mais básicos; situação que abre uma gigantesca janela de oportunidades para a introdução de produtos com maior valor agregado, como porções controladas, cubos, produtos marinados e prontos para cozinhar. “Com o alto volume produzido no país e empresas que possuem mais de uma unidade produtiva, existem infinitas possibilidades para a produção de alimentos industrializados. Há uma tendência muito forte para a diversificação dos produtos finais, como nos Estados Unidos, onde os produtos à milanesa no estilo ‘caseiro’ são muito bem-sucedidos”, indica Berkers.
Melhorias e desafios nos processos
As agroindústrias brasileiras sempre mantiveram um perfil vanguardista, buscando melhorias de desempenho em todas as etapas de seus processos produtivos.
O ano de 2019 é um bom exemplo desta situação. Os resultados financeiros apresentados pelas agroindústrias e cooperativas foram mais consistentes neste período, gerando uma imediata reação nos investimentos. Esta retomada foi melhor sentida nos meses finais de 2019 e no primeiro trimestre deste ano; freada, no entanto, pelo avanço da Covid-19 no país e todo o cenário de incertezas econômicas em torno dela.
Na última década, segundo explica Ruud Berkers, da Marel, o Brasil concentrou-se principalmente na automação dos processos gerais. Com este cenário praticamente consolidado, o próximo passo lógico é passar da automação para a otimização. “Todo gancho vazio em uma linha é uma perda de lucro - todo produto de baixa qualidade custa dinheiro”, alerta o executivo.
Segundo Berkers, um processo de otimização só é possível se forem fornecidas informações confiáveis entre os departamentos, o que elimina discussões sobre os motivos do desempenho inferior de uma linha, ou seja, muda-se o conceito de suposições e opiniões para fatos concretos.
O executivo afirma que o gestor de uma planta frigorífica deve ser capaz de identificar onde estão as maiores oportunidades e por que as linhas não estão funcionando de maneira ideal. A realidade atual, no entanto, é a de que os gerentes de produção não recebem esses dados com facilidade. A maioria das informações é recebida através de anotações em papéis/ documentos no final do dia e estes ainda precisam ser analisados. “Por esse motivo, as informações em tempo real são muito importantes e envolvem, principalmente, a tomada de decisões”, diz Berkers, ressaltando ainda que o atual foco da empresa é apresentar as vantagens e benefícios da otimização de processos e coleta inteligente de dados.
O executivo ressalta ainda que no caso de cortes de frango, um dos grandes desafios da indústria é evitar o sobrepeso do produto na embalagem final. Neste aspecto, a automatização dos processos é fundamental. “Automatizar os processos de classificação, formação e corte de porções significa que o viés humano é excluído e a precisão é otimizada; como resultado se tem maior rendimento com menor sobrepeso”, afirma o diretor da Marel.